Minhas obras de Arte favoritas đź’–

Matheus Sodré
8 min readJul 21, 2020

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Amor Vincit Omnia ou “O Amor Conquista Tudo”

É uma pintura de 1602 feita pelo pintor italiano Michelangelo Caravaggio para um coletor de arte genovês chamado Vincenzo Giustiniani.

Caravaggio foi comissionado pela família Giustiniani a fazer uma pintura que celebrasse as conquistas da família na Itália e na Grécia.

Ele foi comissionado pelos Giustiniani em 1601 no seu ateliĂŞ em Roma, e no ano seguinte foi entregue a pintura que se tornaria a obra de arte favorita no acervo pessoal da famĂ­lia.

A pintura ficou no acervo da família Giustiniani até 1815 quando foi vendida para Frederico III da Prússia e hoje se encontra na galeria Gemäldegaleria em Berlin.

Caravaggio fez essa pintura utilizando uma técnica chamada Chiaroscuro, que era sua especialidade. A técnica consistia em utilizar cores claras em contraste com cores escuras para criar um efeito dramático no objeto retratado. Ele também utilizou do realismo (quase fotográfico nesse caso) para estimular um certo sentimento de choque e surpresa no espectador ao retratar o menino nu cercado de objetos espalhados na cena de forma bagunçada.

Essa pintura é uma alegoria, e alegorias eram a especialidade de Caravaggio, porém essa obra em especifico se destaca porque é a unica obra autoral dele que não é inspirada em um tema bíblico e sim em uma tema pagão. Mostrando o Cupido, um deus pagão adotado pelos romanos, como figura principal da obra.

Embora essa obra tenha várias interpretações que podem ser aplicadas (e nenhuma delas vai estar errada) eu tenho uma especial que me faz olhar pra ela de uma forma diferente.

👉Minha interpretação

O titulo da obra, Amor Vincit Omnia, é uma frase em Latin cunhado pelo poeta Virgílio. Essa pintura apresenta o Cupido com asas de águia levantando de uma cama onde vários objetos estão jogados aos seus pés. Estes objetos são: um violino, um alaúde, um caderno de partituras, um pincel e uma armadura de bronze. Enquanto na cama, escondida nos lençóis, tem uma coroa de ouro quase saindo de cena.

Todos estes objetos são ligados a criação, a arte, e a formas que uma pessoa exerce influência sobre outra pessoa. Seja essa influência pelo “bem” (como na musica e na arte) ou seja pelo “mal” (com violência e autoridade).

O Cupido se erguendo, triunfante, com esses objetos aos seus pés, mostra que nenhuma forma de influencia é tão poderosa quanto ele, quanto o amor. Que mesmo sendo frágil (representado por uma criança) ainda assim é mais forte que toda forma de arte, que toda guerra, e até mais forte que a autoridade de um rei. Por isso o titulo O Amor Conquista Tudo faz tanto sentido, e por isso é uma das minhas obras de arte favoritas 💜

Meisje met de Parel ou “A moça com brinco de pérola”

É uma pintura de 1665 feita pelo pintor holandês Johannes Vermeer. A obra foi feita durante o século de ouro dos Países Baixos e é conhecida como a Mona Lisa do norte, além de ser eleita a melhor obra de arte da Holanda desde 2006.

Um detalhe sobre a obra, é que não se trata de um retrato, e sim um tipo de pintura chamado de tronie. Enquanto um retrato foca em representar uma ideia, uma personalidade, um momento e até mesmo um sentimento, um tronie foca em representar uma expressão facial, um arquétipo e até mesmo um figurino especifico. Diferente de um retrato, um tronie não era comissionado, era um tipo de obra cujo objetivo era aprimorar técnicas de pintura antes de utilizar essas técnicas de fato em uma comissão.

Como outros tronies da época, Vermeer fez essa obra como um estudo artístico, uma maneira de treinar o uso de expressão facial, sombra, cor, e também de texturas diferentes para outros tipos de roupas. A moça no quadro, muitos acreditam ser filha de Vermeer, mas não exista fonte oficial que comprove de fato quem ela seja.

Vermeer fez essa obra utilizando a técnica de Chiaroscuro, utilizando luz em contraste com a sombra para criar uma imagem mais dramática, realista e quase fotográfica. Para o turbante da moça ele utilizou pó de lapis-lazuli e para o brinco de pérola ele usou uma mistura de pós de giz e chumbo, criando assim um efeito metálico.

A obra é datada de 1665 e permaneceu na coleção da família de Vermeer até 1902 quando foi leiloada para um coletor de arte chamado Arnoldus Andries, que a doou para o acervo da galeria Mauritshuis na cidade de Haia onde permanece até hoje.

👉Minha interpretação

Uma detalhe interessante sobre essa obra é que ela oficialmente não tem titulo, tendo sido conhecida como “A Esfinge de Delft” antes de ser popularizado o nome que conhecemos hoje.

Esse é o maior charme da obra pra mim. Não sabemos quase nada sobre essa moça, e não tem muita coisa no quadro que nos conte mais detalhes sobre ela, a unica coisa que chama a nossa atenção é seu olhar, travado com o nosso, e sua expressão suspensa no ar, como se ela fosse dizer alguma coisa antes de se virar e ir embora. É o poder da sugestão a característica principal desse quadro.

Nós, enquanto espectadores, ficamos tão presos no olhar dela que demoramos a perceber que o brinco de pérola dela, na verdade é um brinco de lata, e que nem é um brinco de verdade. É uma esfera suspensa no ar, sem nenhum tipo de ligação com a orelha.

Os quadros de Vermeer são conhecidos por retratarem figuras do dia a dia fazendo tarefas mundanas, sempre colocando o espectador a uma certa distância do objeto retratado, como se atrás de uma barreira invisível, como se fizéssemos parte daquele mundo retratado, mas nunca da cena retratada em si.

Com “A moça com brinco de pérola” essa barreira é quebrada, e somos puxados para dentro da cena junto com ela, fazendo o espectador parte da obra também. A moça não está olhando para o nada, ela está olhando para gente, e nós olhando pra ela. E tanto ela (enquanto obra) como a gente (enquanto espectador) ficamos suspensos no olhar, observando um ao outro querendo perguntar alguma coisa, mas sem de fato conseguir.

Por isso essa Ă© uma das minhas obras de arte favoritas đź’™

O Astrônomo (a esquerda) e A Leiteira (a direita), dois exemplos do estilo de Vermeer retratando o cotidiano. E mostrando como A Moça do Brinco de Pérola é tão diferente do que ele fazia

De zaaier ou “O Semeador “

É uma pintura de 1888 feita pelo pintor holandês Vincent van Gogh enquanto residia na cidade de Arles, na riviera francesa.

Van Gogh tinha acabado de se mudar de Paris, onde teve contato com os artistas do movimento impressionista e as técnicas de pintura moderna propagadas por Monet e Renoir. Ele decidiu “fugir” de Paris devido a problemas com bebida e cigarro que o mantinham de seu trabalho como pintor, e decidiu ir para a pacata cidade de Arles, ao sul da França, onde conseguiria focar mais no seu trabalho sem se preocupar com a agitação da cidade grande e seus vícios.

Em Arles, no período de 1 ano, ele conseguiu fazer mais de 200 quadros. A grande maioria deles com a temática campesina, focando em campos de trigo, trabalho braçal e ciclos de colheita. A temática campesina se tornaria um dos pontos que mais marcariam seu trabalho, bem como o uso da cor amarela que ele frequentemente utilizava para retratar o sol e os campos de Arles.

Van Gogh utilizou técnicas impressionistas, como pinceladas rápidas, bastante volume de tinta e cores em contraste para dar um tom lúdico a cena do semeador.

Ao invés de utilizar uma tela de algodão (que era comum na época), ele pintou essa obra sobre uma tela feita de juta, uma fibra mais aderente que permitia que a tinta fosse absorvida de forma mais rápida mesmo sendo aplicada em grandes volumes.

Ele utilizou Amarelo e Laranja para criar a figura de um sol nascendo ao fundo, e utilizou Azul para colorir os campos de trigo afrente da cena. Van Gogh era muito mal visto em sua época por causa do uso livre das cores, ele não se importava com a cor de fato presente na realidade, e sim do sentimento que esse objeto despertava, e consequentemente da cor que ele sentia a partir deste objeto. Por isso a escolha de cores diferentes do normal. Pintando o céu de amarelo e o chão de azul.

Uma vez ele comentou com outro pintor, Émile Bernard, seu amigo e confidente, sobre sua escolha de cores. “Eu não poderia me importar menos com as cores que existem na realidade” descrevendo a ideia para pintar O Semeador

Após sua morte em 1890 o quadro foi adquirido pela família Kröller-Müller de coletores de arte e se encontra na galeria Kröller-Müller na cidade de Otterlo nos Países Baixos.

👉Minha interpretação

Campos de trigo sĂŁo uma cena frequente nos trabalhos de Van Gogh, sendo uma parte importante do seu desenvolvimento como artista. Ele sai de um estilo preto e branco onde sĂł desenhava com grafite para um estilo de cores vibrantes e formas lĂşdicas. Esse desenvolvimento acontece em paralelo a sua vida pessoal e de seu estado emocional.

Van Gogh sofria de depressĂŁo e ansiedade, pintar era uma forma de canalizar seus sentimentos e expressa-los para outras pessoas.

Os campos de trigo, para ele, representavam uma chance de renovação, uma chance de crescimento. O ciclo de plantar, cuidar, crescer e colher os frutos de seu trabalho foi uma satisfação que ele sempre desejou, e nunca conseguiu experimentar em sua vida. A figura do semeador nessa obra canaliza isso de forma bem sutil e delicada.

Um homem, sozinho, plantando seu trabalho sobre um campo azul (uma cor considerada triste) enquanto acima dele, um sol brilhante colore o céu de amarelo (uma cor considerada “feliz).

As duas partes da cena, ambas em contraste, revelam dois sentimentos. Tristeza, no esforço de ter que esperar, sem certeza de sucesso, que seu trabalho realmente vá dar frutos. E otimismo, de que o sol vai nascer amanha, te dando outra chance de tentar, de ter tudo que você precisa para crescer e ser feliz.

“Se eu tiver qualquer talento no futuro, significa que eu tenho talento agora. Porque trigo continua sendo trigo, por mais que as pessoas confundam com grama no inicio” ele escreveu uma vez para seu irmão, duvidando de seu talento como pintor.

Por esse significado todo essa Ă© uma das minhas obras de arte favoritas đź’™

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